Lançamento de foguete em Baikonur (fonte: cabinflooresoterica.com)
Sempre me fascinaram os nomes das coisas, e desde que me recordo que determinadas palavras, sem que eu saiba inteiramente destrinçar a razão, mas certamente com raízes na ortografia e na fonética, me espantam e seduzem. E sobre tudo isso, a dúvida da origem, o desconhecimento posto em porquês.
Que um russo seja um cosmonauta e um inglês seja um astronauta não me parece irrelevante nem um mero acaso linguístico. Nem me parece, sobretudo, que deva ser descartado como facto político. Assim como não é igual um centro espacial em Baikonur, no Cazaquistão, ser um cosmódromo, e o mesmo centro, em Kourou, na Guiana Francesa, base da Agência Espacial Europeia, ser uma base de lançamentos espaciais ou, mais claramente ainda, um espaçoporto (usado no Brasil, em tradução directa do inglês spaceport).
Que um lado do mundo tenha optado pelo latino spatium (espaço, no português) para se relacionar com o Universo fora da Terra, e que outro tenha optado pelo grego kósmos (cosmos, no português), poderá ser sobretudo influência cultural e geográfica, mas talvez seja mais do que isso. Por que o spatium se refere à distância, à área entre diferentes pontos, e o kósmos se refere à ordem, ao governo, à estrutura das coisas.
Serão os russos mais contemplativos da harmonia do Universo, mais formais quanto às suas estruturas governativas e admiradores da ordem, ao passo que os ocidentais, berços materiais do capitalismo, mais afectados pela sensação da distância e assolados pela incapacidade do toque?
Afinal, com Gagarin, os russos foram os primeiros a contemplar de perto os astros, mas foram os norte-americanos, nos pés de Armstrong, os primeiros a ter a necessidade de tocar-lhe.
Hugo Picado de Almeida