− Desculpe, o senhor planeia explodir-se?
− Como? – perguntou Jacques, surpreendido.
− O «como» é a segunda pergunta a fazer. Há muitas formas. O que lhe pergunto é se está a pensar fazer-se explodir. Está?
− Explodir-me?
− Rebentar, pulverizar-se, ir pelos ares. Há outros sinónimos capazes do mesmo efeito.
− De modo nenhum!
− Perguntei apenas porque me pareceu tão concentrado. Mas bom, então não se importa que eu… Não está a compreender?
− Que você… Que você, portanto, se faça explodir?
− Sim, precisamente. – fez uma pausa, mirando Jacques com um esgar pouco convencido – É capaz de querer afastar-se um pouco mais. Já vi que o assunto não o seduz.
− É muito amável. – verificou, desconcertado – Mas vai explodir-se assim, sem mais, aqui no meio do passeio?
− Não, aqui não. Ali do outro lado da estrada. Quero ver se consigo rebentar o banco. Devo-lhes dinheiro, sabe? E cheguei à conclusão que explodir-lhes o edifício é a minha melhor opção.
− Não estou bem a ver como é que isso o ajuda… − Jacques espantava-se por se encontrar tão calmo.
− Nada mais elementar. O banco pode existir sem a dívida, mas a dívida não é nada sem o banco. Vai daí, pensei que, se não me consigo livrar da dívida, posso sempre livrar-me do banco. É o problema dos tangíveis. Não resistem a uma boa bomba.
Entretendo-se a dar piparotes numa pedra solta com a ponta do sapato, Jacques sentia-se preencher por uma inquietação que se expressava sob a forma de um ardor espesso na região do peito. «Estou a solidificar.», atreveu-se a pensar. «E é de dentro para fora.» Como se se deixasse invadir por uma tensão que não existia fora de si, mas que só agora se manifestava em querer no espaço do corpo, no terreno delimitado pelas fronteiras da pele, brotando, germinando, primeiro caule, depois folha, flor e fruto, impelindo o corpo para a frente, empurrando de dentro a derme que se revelava incapaz de furar. E a pressão, sem ponto de escape, move.
Hugo Picado de Almeida