Não quero desiludir nem ofender ninguém, mas os hispters são, eles próprios, o triunfo da massa de que se pretendem distinguir, a vitória de uma lógica arquivística, categórica, de arrumação do social.
É essa a forma da sociedade responder aos fenómenos que a tentam negar: hippies, beatniks, punks, etc. Foi assim com a música alternativa e é assim, agora, com os hipsters. Ao dar-lhes um nome, ao constituí-los como um grupo objectivável e, sobretudo, como um público para o marketing – a lógica que rege as sociedades de massas -, aniquilou-os.
E a culpa não é de ninguém. A sociedade é que não pode funcionar senão assim, categorizando o desviante como desviante, para que todos possam sobreviver na sua forma expurgada, higienicamente arquivados e identificados, já sem possibilidade de causar qualquer dano ao ensemble das gentes e das normas.
Percebo que as categorias sejam úteis, mas irritam-me. Todas elas. E tanto piores são quando voluntariamente nos inscrevemos nelas.
Hugo Picado de Almeida