Sempre admirei o facto de as grandes cidades terem todas nome de mulher: Lisboa, Nova Iorque, Paris, Barcelona, Praga, Roma, Veneza… E não tenho a certeza de estar pronto para acreditar que isso se deva ao simples facto de, em português, cidade ser um substantivo feminino, mas pode bem ser por isso. Até porque, se o termo cidade é feminino, muitos dos seus nomes não o são: Berlim, Londres, Tóquio, Istambul, e que dizer das cidades russas nas margens do Volga, cujo nome é masculino ou feminino dependendo da margem onde se situam?
Seja como for, nunca imaginei uma cidade como um homem — culpa talvez da literatura? –, nem nunca vi nenhuma descrita como tal. Talvez porque, na nossa cultura, o símbolo da beleza sejam as mulheres e não os homens; talvez porque, na nossa cultura, elas é que são misteriosas e não eles, por isso são delas as ruas a descobrir, e enfim, talvez sobretudo por um certo domínio, justificado historicamente, ainda que nem por isso menos criticável na discriminação que encena, dos homens na cultura ao longo dos séculos. Entre os grandes escritores ocidentais, poucas são as mulheres que consideramos, e elas só aparecem em maior número já na segunda metade do século XX.
Em todo o caso, os escritores não têm disso culpa, e é uma bela homenagem que se lhes faz, homenagem pela qual eles são grandemente responsáveis, essa de considerar as mais belas cidades do mundo como mulheres.
Hugo Picado de Almeida