O em directo está muito bem, mas se querem mesmo saber, eu talvez preferisse o em diferido.
Penso muitas vezes nisso, ao ver a repetição de um jogo de futebol. Penso nisso sobretudo ao ver aquele jogador a festejar o 2-0, sem poder imaginar que daí a 45 minutos estará a chorar uma derrota por 2-3, com a consequente eliminação de uma qualquer prova.
Peço ao leitor que suspenda na consciência a magia do directo e as surpresas do ao vivo, os inesperados da vida em acontecimento, e que me acompanhe enquanto avanço uma hipótese talvez desmiolada: e se a vida se desse ao contrário? Ou só em diferido?
Teria, acredito eu, as suas vantagens. Sabendo das consequências de antemão, haveria coisas que afinal não faríamos e coisas que não diríamos – ou, se fossemos o Cavaco, coisas que finalmente faríamos e palavras que finalmente diríamos. Agiríamos, então, com mais consciência: conhecendo os fins, mais facilmente adaptaríamos os meios.
Abriria, poderemos equacioná-lo, espaços aos abusos dos poderosos, que, conhecendo o desenrolar dos acontecimentos, envidariam esforços para agir de forma a evitar reveses. Mas, simultaneamente, oferecer-nos-ia o em diferido as ferramentas que garantiriam que não os colocaríamos lá, para começar. Evitavam-se as olheiras ao Gaspar, evitava-se a pancadaria dos sequazes do Relvas, as gaffes do Álvaro e, o que não seria pior, que o Passos tivesse de mentir num programa eleitoral.
Hugo Picado de Almeida