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Sentido proibido

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Ultimamente, sinto que o GPS começa a sofrer de amnésia. Há ruas que esqueceu, entroncamentos que já não reconhece, estradas que jura nunca ali terem existido. De início, tolerava-o, afagava-lhe os botões, compreensivo, e, não me custa admiti-lo, com o desprezo intolerante de quem se julga perante uma falta pontual. Mas vai agora crescendo em mim a certeza, e o temor, de que maleita mais gravosa se vai estendendo aos circuitos da máquina, e que esta um dia, ao se lhe perguntar o caminho para a Baixa, se contente em devolver, inocentemente por certo, um singelo “Mas quem sou eu?”

Hei-de responder-lhe, já o sei, triste mas fatalmente, com um acabrunhado “Mas onde é que eu estou…?”, tamborilando nervosamente com os dados no volante.

Hugo Picado de Almeida

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